Problemas com o coleguinha: quando e como intervir?

É comum que, ao longo do desenvolvimento infantil, as crianças se envolvam em conflitos com colegas de escola, amigos ou até familiares. Situações como empurrões, desentendimentos ou até brigas mais intensas fazem parte do processo de aprendizado social e emocional das crianças. No entanto, muitos pais se deparam com a dúvida: quando e como intervir nesses momentos?

A resposta, a meu ver, é clara: devemos intervir sempre, mas de maneira responsável, consciente, positiva e respeitosa. A parentalidade positiva nos ensina que não é a imposição de castigos ou o uso de autoridade excessiva que molda comportamentos saudáveis, mas sim a maneira como os pais orientam seus filhos nas situações difíceis, mostrando-lhes formas adequadas de lidar com os próprios sentimentos e as interações com os outros. Intervir de maneira autoritária, como exigir que a criança peça desculpas sob ameaça de castigo, não contribui para o aprendizado. Ao contrário, isso pode criar sentimentos de medo e desconexão. O objetivo deve ser sempre o de educar, ajudar a criança a entender suas emoções e desenvolver habilidades de resolução de conflitos, e não apenas corrigir comportamentos de maneira punitiva.

Intervenção Responsável: Educação Emocional e Social

Quando uma criança se envolve em um conflito com um colega, como bater, empurrar ou gritar, é fundamental que o adulto intervenha com o objetivo de ensinar. Ignorar o problema ou permitir que a criança resolva sozinha sem a devida orientação pode ser considerado negligência, pois o adulto também é responsável pelo processo de aprendizado e pela promoção de comportamentos saudáveis. A criança precisa entender o impacto de suas ações e aprender maneiras mais adequadas de lidar com suas emoções e interações sociais.

O ideal, ao intervir, é criar um espaço onde a criança possa refletir sobre o que aconteceu, reconhecer o que levou àquele comportamento e aprender maneiras de corrigir e reparar o dano causado. Em vez de simplesmente culpar ou punir, os pais devem atuar como guias, orientando o comportamento da criança com empatia e respeito.

A Conexão Antes da Correção: Como Funciona?

Dentro do escopo da parentalidade positiva, uma das metodologias que ensino aos pais é a importância de quebrar o ciclo do mau comportamento e adotar uma abordagem de correção positiva. Um aspecto essencial desse processo é a conexão antes da correção. Quando uma criança está envolvida em um conflito, especialmente quando está demonstrando raiva ou frustração, é importante primeiro validá-la emocionalmente e criar um ambiente de empatia e compreensão. Essa conexão inicial é crucial para que a criança se sinta ouvida e acolhida, antes que se inicie qualquer tipo de correção ou orientação sobre o que poderia ter sido feito de maneira diferente.

A raiva, por exemplo, é uma emoção poderosa, e é natural que as crianças, especialmente as mais novas, não saibam como lidar com ela de forma construtiva. Em vez de desconsiderar ou ignorar essa emoção, devemos reconhecê-la, validá-la e ajudar a criança a processá-la de maneira adequada. Isso pode ser feito com frases como: “Eu entendo que você ficou muito bravo. Eu também fico assim às vezes. Está tudo bem sentir raiva, mas vamos pensar juntos em outra maneira de agir.”

Ao validar a emoção da criança, damos espaço para que ela se sinta compreendida, o que facilita o processo de reflexão e aprendizado. Essa abordagem ajuda a criança a se acalmar e, uma vez tranquila, ela estará mais aberta a refletir sobre o que aconteceu e buscar formas alternativas de resolver o problema.

Exemplo de Correção Positiva: Orientando a Criança com Empatia

Após esse momento de conexão, podemos iniciar a correção positiva. Esse momento é fundamental para ensinar à criança a importância de respeitar os sentimentos dos outros e de buscar soluções pacíficas para os conflitos. Perguntas como “Como você acha que seu coleguinha se sente agora?” ou “O que você poderia fazer para ajudar seu amiguinho a se sentir melhor?” incentivam a criança a colocar-se no lugar do outro, promovendo a empatia, uma habilidade essencial para o desenvolvimento emocional saudável.

Além disso, em vez de impor uma solução pronta, como simplesmente exigir que a criança peça desculpas, podemos trabalhar junto com ela para encontrar uma solução mais construtiva. Por exemplo: “O que você acha que poderíamos fazer para resolver essa situação? Como podemos mostrar ao seu amigo que você se importa e que não queria que ele ficasse triste?” Dessa maneira, a criança se torna parte ativa do processo de correção e aprendizagem, o que fortalece sua sensação de responsabilidade e autoconfiança.

Simulação e Aprendizado Prático

Uma técnica que utilizo com bastante sucesso é a simulação da situação. Isso pode ser feito de forma simples, imitando a cena que causou o conflito. Por exemplo, se uma criança bateu em um coleguinha por pegar seu brinquedo, podemos recriar essa situação de maneira controlada e perguntar: “Agora, o que você acha que podemos fazer de diferente para que você não fique com tanta raiva e seu coleguinha não fique triste?” Isso não só ensina a criança a pensar em alternativas, mas também a coloca em uma posição de reflexão e resolução de problemas.

Simular o conflito permite que a criança visualize alternativas de comportamento e se experimente em situações de resolução de problemas. Ao invés de ser apenas uma correção verbal, a atividade prática traz à tona os conceitos de maneira mais tangível e compreensível, fortalecendo a habilidade da criança de lidar com situações semelhantes no futuro.

A Importância da Parentalidade Consciente e Positiva

Por fim, é fundamental entender que a correção positiva não envolve castigos, punições ou gritos. Trata-se de um processo de orientação, empatia e ensino. Ao adotar uma abordagem consciente, os pais não só corrigem o comportamento da criança, mas também ensinam habilidades sociais, emocionais e cognitivas valiosas, como autocompaixão, empatia, resolução de conflitos e responsabilidade. Essa prática também fortalece o vínculo entre pais e filhos, criando um ambiente de confiança e respeito mútuo.

Em vez de buscar apenas controlar ou disciplinar, a parentalidade positiva e consciente busca educar e capacitar as crianças para que se tornem pessoas emocionalmente equilibradas e socialmente competentes. Por meio de intervenções respeitosas e conscientes, podemos ajudar nossos filhos a entender o impacto de suas ações, a se relacionar melhor com os outros e a se tornarem adultos mais empáticos e responsáveis.

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