A parentalidade positiva e consciente nos ensina que a maneira como respondemos aos comportamentos de nossos filhos pode ter um impacto profundo no seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Um dos aspectos mais fundamentais dessa abordagem é o encorajamento, que, muitas vezes, é confundido com elogios superficiais. Embora os elogios sejam uma forma comum de reforço positivo, é crucial compreender que, em muitos casos, o encorajamento genuíno é mais eficaz para o crescimento e a autoestima das crianças.
Infelizmente, os pais e educadores muitas vezes operam no piloto automático, respondendo aos comportamentos das crianças com reações automáticas, como castigos, punições ou críticas. Isso ocorre, principalmente, porque vivemos em uma sociedade que valoriza a disciplina tradicional, onde o objetivo é corrigir rapidamente o mau comportamento para restabelecer a ordem. No entanto, isso pode levar a consequências emocionais negativas, como vergonha, culpa e medo, o que nunca vai encorajar a criança a se comportar de forma mais positiva. Ao contrário, a abordagem da parentalidade positiva nos ensina que é possível redirecionar comportamentos de forma colaborativa e construtiva, permitindo que a criança aprenda a fazer escolhas mais adequadas de forma autônoma e responsável.
Elogios vs. Encorajamento: Qual é a Diferença?
Enquanto os elogios são expressões de aprovação direcionadas ao comportamento ou à tarefa que a criança realizou, o encorajamento vai muito além, focando no agente — ou seja, na criança em si. O objetivo do encorajamento é reforçar a autoconfiança da criança, mostrando que ela tem a capacidade de aprender, crescer e superar desafios. Ele não depende da aprovação externa, mas visa a valorização do esforço e o reconhecimento do processo de aprendizagem.
Vamos comparar algumas situações típicas de elogios e encorajamento:
- Elogio: “Você fez um ótimo trabalho guardando os brinquedos, você é muito bom nisso!”
Encorajamento: “Você conseguiu guardar seus brinquedos sozinho! Como foi para você fazer isso? Isso mostra como você pode ser responsável!”
Neste exemplo, o elogio foca em um julgamento sobre o desempenho da criança, dizendo o que ela fez de bom, enquanto o encorajamento valoriza o esforço da criança e a motiva a refletir sobre seu progresso e sucesso.
- Elogio: “Estou tão orgulhosa de você por ter terminado sua lição de casa!”
Encorajamento: “Você deve estar se sentindo muito bem por ter terminado sua lição de casa sozinho. Isso mostra como você é capaz de se organizar!”
Aqui, o elogio foca no resultado e nas expectativas do adulto, enquanto o encorajamento foca no processo da criança e no quanto ela cresceu ao lidar com um desafio.
O Impacto dos Elogios Excessivos
Embora os elogios possam ter um papel importante em aumentar a autoestima de uma criança, quando usados em excesso ou de maneira inapropriada, eles podem gerar efeitos negativos. Se a criança recebe elogios constantes, como “Você é o melhor” ou “Você é incrível”, ela pode começar a buscar aprovação externa e se tornar dependente da validação do outro. Isso pode criar uma falsa sensação de segurança que, na realidade, fragiliza a autoconfiança da criança, pois ela se torna mais focada em agradar os outros do que em desenvolver suas próprias habilidades e avaliar seu próprio esforço.
Além disso, os elogios podem alimentar uma mentalidade de “tudo ou nada”, onde a criança sente que precisa ser perfeita ou sempre estar à altura das expectativas externas. Isso pode gerar ansiedade, medo de errar e uma dificuldade em lidar com a frustração, quando não atinge os padrões muitas vezes irrealistas que foram estabelecidos pelos elogios.
O Poder do Encorajamento
O encorajamento, por outro lado, ajuda a criança a desenvolver uma mentalidade de crescimento, que é fundamental para o sucesso emocional e psicológico a longo prazo. A mentalidade de crescimento é uma teoria proposta pela psicóloga Carol Dweck, que sugere que, ao invés de acreditar que as habilidades são inatas e imutáveis, a criança aprende a entender que o esforço, o aprendizado com os erros e a perseverança são os caminhos para melhorar e alcançar seus objetivos.
Quando os pais praticam o encorajamento, eles estão, na verdade, promovendo uma mentalidade de crescimento em seus filhos, o que fortalece a confiança da criança em sua própria capacidade de aprender e superar desafios. Em vez de simplesmente elogiar o sucesso imediato, os pais podem enfatizar o esforço, a persistência e o processo de aprendizado. Isso não apenas ajuda a criança a se sentir mais capaz, mas também a ensina a lidar melhor com as dificuldades e frustrações ao longo da vida.
Exemplos de Como Encorajar ao Invés de Elogiar
Aqui estão alguns exemplos de como usar o encorajamento para redirecionar comportamentos e fortalecer a autoestima da criança, em vez de recorrer a elogios vazios ou punições:
- Situação 1: Guardar os brinquedos
- Elogio: “Você fez um ótimo trabalho guardando seus brinquedos!”
- Encorajamento: “Você conseguiu guardar seus brinquedos sozinho! Isso mostra como você pode ser responsável e cuidadoso com suas coisas. Como você se sente ao ver tudo no lugar?”
- Situação 2: Comportamento desafiador
- Elogio: “Você é muito travesso, sempre aprontando!”
- Encorajamento: “Eu percebo que você está com muita energia hoje, mas podemos conversar sobre como usar essa energia de maneira que todos ao seu redor se sintam bem. O que você acha que poderia ser feito de diferente?”
- Situação 3: Ter bom desempenho na escola
- Elogio: “Você é muito inteligente por ter tirado a nota máxima!”
- Encorajamento: “Você trabalhou duro para estudar e conseguir essa nota, e isso mostra o quanto você se dedica. O que você aprendeu nesse processo?”
Como podemos ver, o encorajamento foca mais no processo e no esforço, incentivando a criança a refletir sobre suas ações e a aprender com suas experiências, enquanto os elogios tendem a focar nos resultados ou em qualidades estáticas da criança.
Encorajar nossos filhos é uma das habilidades mais poderosas que podemos cultivar como pais. Ao focarmos no esforço, no aprendizado e na perseverança, em vez de nos concentrarmos apenas em resultados imediatos e elogios superficiais, damos à criança as ferramentas emocionais necessárias para se tornar mais autônoma, confiante e resiliente. Em vez de criar uma dependência da validação externa, o encorajamento fortalece a autoestima da criança de forma saudável, mostrando-lhe que ela é capaz de superar desafios e crescer por meio do seu próprio esforço.
Ao praticarmos a parentalidade positiva e consciente, podemos ajudar nossos filhos a se tornarem adultos equilibrados e emocionalmente competentes, capazes de lidar com os altos e baixos da vida com confiança e segurança.