Como conseguir que seu filho te ouça: práticas de parentalidade positiva e consciente
“Falo a mesma coisa mil vezes, grito, faço mímica, coloco de castigo… só falta bater e meu filho não me ouve. O que faço para que ele me escute?”
Esta é uma dúvida frequente entre muitos pais. Eles se sentem frustrados e impotentes diante da falta de atenção ou resposta dos filhos. Aparentemente, por mais que se esforcem para explicar, chamar, gritar ou até usar mímicas para tentar chamar a atenção, a criança parece não escutá-los.
O que muitos pais não percebem é que, na maioria das vezes, o problema não está apenas na criança, mas na maneira como nós, como adultos, estamos nos comunicando com ela. Focamos tanto no comportamento da criança que esquecemos de observar o quanto também estamos envolvidos nesse processo de “não escuta”. Quando a criança não nos ouve, precisamos olhar para nós mesmos e perguntar: “Estou realmente me conectando com ela? Estou ouvindo o que ela tem a dizer?”
Na parentalidade positiva, a comunicação eficaz com os filhos não é apenas uma questão de impor regras ou exigências. Trata-se de construir uma relação baseada em respeito mútuo, empatia e uma escuta ativa, onde tanto os pais quanto as crianças se sentem ouvidos, compreendidos e valorizados.
Refletindo sobre o papel dos pais na comunicação
Muitas vezes, os pais abordam a falta de atenção dos filhos como uma questão unidirecional, em que o erro está apenas do lado da criança. A visão tradicional de disciplina em muitos lares foca na ideia de que a criança é a responsável por “obedecer” sem questionamentos, muitas vezes utilizando métodos coercitivos, como gritos, castigos ou ameaças. No entanto, essas abordagens frequentemente não resultam em uma comunicação eficaz, pois baseiam-se em um desequilíbrio de poder, onde os pais se posicionam como autoridade absoluta, sem levar em conta o que se passa no mundo interior da criança.
É importante lembrar que a capacidade de escutar é uma habilidade que também precisa ser ensinada. Muitas vezes, pais e filhos se encontram em um ciclo de falta de escuta, onde os filhos não conseguem prestar atenção no que os pais dizem, mas, ao mesmo tempo, os pais não estão realmente ouvindo os filhos. Quando passamos a observar o processo de comunicação como uma via de mão dupla, em que ambos precisam se ouvir de forma ativa e empática, começamos a perceber a verdadeira essência de uma comunicação respeitosa.
O que significa “Escutar Ativamente”
Escutar ativamente vai além de simplesmente ouvir as palavras que a criança diz. Trata-se de realmente compreender e validar os sentimentos e as necessidades da criança, sem julgamentos. Muitas vezes, os pais estão tão ocupados tentando corrigir comportamentos ou dar instruções que não percebem o que a criança realmente está tentando expressar. Ao adotar uma postura de escuta ativa, os pais conseguem se conectar com o mundo emocional de seus filhos, reconhecendo suas preocupações e sentimentos, o que, por sua vez, facilita a comunicação mútua.
Na parentalidade positiva, a escuta ativa é um pilar central. Para que a criança se sinta ouvida e, portanto, mais disposta a ouvir, é fundamental que os pais adotem uma postura de empatia e validação, mesmo quando os filhos não seguem as instruções na primeira tentativa.
5 Sugestões para Ser Ouvido(a) pelos Seus Filhos
1. Ouça, ouça e ouça mais um pouco
Uma das formas mais poderosas de promover uma comunicação eficaz é, paradoxalmente, por meio do silêncio. Ao dar espaço para que a criança se expresse sem interrupções, os pais demonstram que valorizam suas palavras e emoções. A escuta ativa requer atenção plena: colocar de lado o celular, fazer contato visual e estar verdadeiramente presente no momento. Esse comportamento modela a habilidade de escuta para os filhos, que aprendem por imitação. Quando os pais se mostram dispostos a escutar de forma atenta, as crianças tendem a fazer o mesmo em relação aos outros.
2. Olhe nos olhos e demonstre empatia
Quando você fala com seu filho, sempre procure estabelecer contato visual. Isso transmite a mensagem de que você está genuinamente interessado no que ele tem a dizer. A empatia é fundamental. Se seu filho está frustrado ou triste, mostre que entende seus sentimentos com palavras como: “Eu vejo que você está triste porque não conseguiu brincar com o brinquedo. Eu também me sentiria assim.” Isso valida a emoção da criança e cria um ambiente onde ela se sente segura para expressar seus sentimentos.
3. Trabalhe com previsibilidade e conexão
As crianças precisam saber o que esperar, principalmente em um ambiente familiar. A previsibilidade traz segurança emocional, e isso facilita a comunicação. Quando você estabelece rotinas claras e consistentes, a criança tende a se sentir mais conectada e respeitada. Além disso, sempre que possível, reserve momentos de qualidade para passar com seu filho, longe de distrações, criando um espaço de vínculo e confiança que favorece a escuta.
4. Ofereça escolhas limitadas
Uma das maneiras mais eficazes de engajar uma criança na comunicação e de fazê-la ouvir é oferecendo escolhas limitadas. Em vez de usar comandos ou imposições, ofereça à criança a oportunidade de tomar decisões que a envolvem diretamente. Por exemplo, ao invés de dizer: “Vá agora escovar os dentes!”, tente: “Você quer escovar os dentes antes ou depois de colocar o pijama?” Essa abordagem respeita a autonomia da criança e promove uma atitude mais colaborativa e engajada.
5. Reafirme os combinados
Quando você estabelece combinados com seus filhos, é importante reafirmá-los de forma clara e positiva. Isso ajuda a criança a internalizar o que foi acordado e reforça a importância do que foi combinado. Por exemplo, se você e sua filha combinaram que ela brincará por mais 10 minutos, pergunte: “Quantos minutos faltam para você terminar? Estamos combinadas?” Ao fazer isso, você não apenas reforça o acordo, mas também dá à criança a sensação de que ela tem um papel importante nas decisões da casa.
A Importância da conexão e do respeito
Quando passamos a nos colocar no lugar da criança e ouvimos de verdade o que ela tem a dizer, nossa relação com ela se transforma. A parentalidade positiva propõe que a escuta, a empatia e a conexão sejam as bases para um relacionamento saudável e respeitoso. O simples ato de ouvir, sem pressa ou julgamento, constrói um vínculo profundo e de confiança entre pais e filhos, facilitando a comunicação e o entendimento mútuo.
Portanto, ao invés de focar no comportamento da criança, que tal começar a olhar para a forma como você está se comunicando com ela? Quando passamos a escutar ativamente nossos filhos, abrimos portas para um diálogo mais aberto e construtivo, onde ambos têm espaço para se expressar e se ouvir. Isso, certamente, resultará em uma relação mais saudável e harmoniosa, onde a criança se sente respeitada e mais disposta a ouvir os pais.
Fernanda Teles – Palestrante, psicóloga especializada em educação positiva & diretora do Seminário de Mães.