Como integrar os pais na vida dos filhos, da gestação à vida inteira
“Educar e criar um filho com o pai já é difícil, sem o pai então…” Você já ouviu essa frase de alguém?
Os meus pais a verbalizaram para mim em um momento crítico da minha vida. Mas, calma, o pai dos meus filhos (que é o meu marido, inclusive) não é ausente. Mais pra frente eu trago aqui em qual momento isso foi dito. A questão é que eu não levei muito a sério.
Mas a gente passa a refletir e pensar em situações hipotéticas conforme vamos vivenciando nossas experiências, sejam elas boas ou más.
Não só a maternidade é difícil, a parentalidade na verdade é desafiadora. Aliás, você sabe o que significa essa palavra? Vamos lá!
Parentalidade:
1) Qualidade do que é parental.
2) Estado ou condição de quem é pai ou mãe (ex: direitos de parentalidade)
De uma forma mais didática, é o conjunto de responsabilidades, práticas e envolvimento dos pais ou responsáveis na criação, educação e desenvolvimento dos filhos. Vai além da simples relação biológica, englobando também o cuidado emocional, social e cognitivo das crianças.
Uma vez eu li um texto que falava sobre a presença dos pais quando se nasce um filho. Eu não consegui recuperar esse texto, mas eu me lembro que ele falava sobre o sentimento da mãe do pai. Entendeu? A avó da criança por parte paterna. Falava sobre como essa mulher se sentia quanto ao desprezo que era dado ao seu filho, como pai, durante a gestação e após o nascimento da criança.
Afinal, a prioridade, até o nascimento, é a saúde da mãe. Depois do nascimento, é o bebê e, em segundo plano, a mãe.
Ei, cadê o papai nessa história toda?
Enfim, o texto falava sobre a atenção que o pai não tem de ninguém, mas precisa dar para todo mundo. E em como essa mãe – a avó – se sentia com o seu filho sendo esquecido, multicobrado.
E então me dei conta do quanto podemos afastar os pais das tarefas que lhes são atribuídas, quanto à educação dos filhos, quando não deixamos clara a sua importância na estrutura familiar.
Antes de continuar, existem dois pontos importantes nessa conversa:
1) Existem muitos tipos de afastamento paterno e aqui nós não estamos justificando nenhum deles. A ideia é fazer entender que o desenvolvimento infantil precisa de uma figura que lhe passe a noção do que é o afeto, estabilidade e exemplo de responsabilidade e respeito.
2) E então entendemos o segundo ponto: não é somente o homem quem pode oferecer segurança, mas também diferentes referências – maternas, paternas e outros cuidadores – contribuem para o equilíbrio emocional e social da criança. As estruturas familiares podem ser compostas por pais do mesmo sexo ou por uma mãe solo, por exemplo. A questão é compreendermos esse equilíbrio que as crianças precisam.
O Papel do Pai na Formação Emocional da Criança
Durante muito tempo, a figura paterna foi associada apenas ao provedor financeiro, enquanto a mãe era vista como a principal responsável pelo cuidado e educação dos filhos. No entanto, estudos e experiências demonstram que o envolvimento do pai vai muito além disso, impactando significativamente o desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança.
Já na gestação a diferença começa a aparecer. Segundo a neuropsicóloga e psicóloga clínica Denise Ramos, a mãe que está sendo assistida pelo pai tem muito mais sentimento positivo do que negativo. Ela se sente segura, amparada, acolhida, feliz, satisfeita.
“O carinho do pai contribui para que o bebe se sinta seguro e aprenda a lidar melhor com suas emoções de medo, ansiedade e estresse. Estudos comprovam que crianças com os pais presentes e ativos na criação são menos ansiosas e estressadas”, destaca a psicóloga.
A presença paterna é essencial para a construção da autoestima e segurança emocional das crianças. A interação amorosa e atenta com o pai ajuda a criança a desenvolver habilidades sociais, promovendo um senso de pertencimento e reforçando vínculos afetivos duradouros.
O exemplo constrói. Já ouviu isso também? O pai exerce influência na construção da identidade da criança, servindo como referência para a formação de valores e comportamento. A forma como o pai trata os outros, lida com desafios e expressa suas emoções ensina, direta e indiretamente, lições valiosas sobre respeito, empatia e resiliência. Essa presença ativa auxilia na quebra de estereótipos e na formação de crianças mais seguras e equilibradas emocionalmente.
Isso também nos faz tomar mais cuidado com as nossas atitudes e controle das nossas emoções. É um policiamento obrigatório e aprendemos a fórceps (risos).
Benefícios para Toda a Família
Quando o pai participa ativamente da criação dos filhos, toda a família se fortalece. O relacionamento entre os parceiros se torna mais equilibrado, com uma divisão mais justa das responsabilidades parentais. Além disso, os filhos crescem em um ambiente mais harmonioso, onde percebem a cooperação e o amor como pilares fundamentais para a convivência.
Inclusive, Denise lembra como o apoio do papai também ajuda o emocional da mamãe. “O impacto proporcionado na dinâmica familiar gera redução do estresse materno e prevenção da depressão pós-parto. O apoio paterno reduz o cansaço e demandas pós-parto, reduzindo, também, a sobrecarga emocional desta mãe”, alerta.
Uau, quanta responsa, hein papais!
Mas vamos nos lembrar que eles também estão aprendendo e precisam de atenção? Peçam ajuda, afinal, homens também choram e se sentem exaustos.
Fizemos um compilado de possíveis desafios dos papais com a psicóloga Denise, veja só se você se enquadra em algum ou se o papai do seu filho se encaixa aqui. Mande para ele e seja um apoio também.
Desafios:
1) Conciliar a carga horária profissional com tempo de qualidade para os filhos.
Falta de tempo pode gerar culpa e distanciamento emocional. Para isso não acontecer podemos criar uma rotina equilibrada, priorizando momentos diários de conexão com os filhos, estabelecendo limites entre trabalho e vida pessoal, aproveitando pequenas interações diárias como refeições e brincadeiras para fortalecer o vínculo.
2) Muitos pais cresceram sem referências de pais presentes e não sabem como agir. Você só dá o que sabe. Por isso, o medo de errar pode levar à inibição ou delegação das responsabilidades.
Para solucionar este desafio é importante buscar aprendizado em livros, cursos e grupos de apoio, confiar na conexão natural com o filho e aprender na prática, conversar com outros pais que também desejam um papel ativo na criação dos filhos.
3) Muitas vezes o pai sente que não sabe como ajudar ou que sua participação não é tão valorizada, gerando frustração e afastamento na relação com o filho e com a parceira.
Neste caso, assumir um papel ativo sem esperar ser “convidado” a ajudar, conversar com a parceira sobre divisão de responsabilidades, construir uma relação de parceria na criação dos filhos pode ajudar muito. Lembre-se, os filhos são responsabilidade dos dois cinquenta por cento mãe e cinquenta por cento pai. E vocês são um time, não estão competindo, mas jogam do mesmo lado e o gol é baseado em comunicação, estratégia e trabalho em equipe.
4) Alguns pais esperam que os filhos sejam sempre obedientes ou emocionalmente maduros. Isso gera impaciência no adulto e resulta em métodos disciplinares inadequados.
Neste caso, a dica é compreender as fases do desenvolvimento infantil, ter expectativas realistas e ajustar a abordagem conforme necessário, focar na construção de um vínculo baseado no respeito e na paciência.
5) Lidar com birras, frustrações e inseguranças infantis pode ser desafiador. Alguns pais tendem a evitar ou minimizar as emoções da criança e isto gera sentimento de rejeição, insegurança e desvalorização.
Para que isto não aconteça, é importante aprender sobre regulação emocional e escuta ativa, ensinar a criança a expressar sentimentos em vez de reprimir, ter paciência e lembrar que a criança ainda está aprendendo a lidar com as emoções.
Ser pai vai muito além de prover recursos materiais; é sobre estar presente, ouvir, ensinar e aprender com os filhos. O papel masculino na criação das crianças é essencial para o desenvolvimento saudável e equilibrado de cada indivíduo. Quando os pais compreendem sua importância e se envolvem ativamente na vida dos filhos, constroem laços afetivos sólidos e contribuem para a formação de adultos mais confiantes e preparados para o futuro.