Acolher e compartilhar: a força do coletivo materno.

Pensar na mãe como alguém que sente, sofre e deseja é essencial para a promoção da saúde mental materna. Mas é comum que as mães lutem contra essa ideia de olhar para elas mesmas e se manifestem com discursos românticos, em que seus filhos são estrelas de suas vidas, não sendo capazes de apontar sequer uma coisa que prefiram fazer sem as crianças.

Talvez você hesite em expressar sua individualidade, pois tema a reação dos outros. Ou talvez seja cedo para perceber que seus gostos musicais, seu paladar, seus interesses não são infantis só porque você tem filhos. Tudo bem, vamos devagar. Por algum tempo, o mundo gira ao redor dos filhos e o dia a dia é tão intenso que não há alternativa a não ser mergulhar de cabeça nessa aventura materno-infantil. Quando notamos que a trabalheira nunca vai acabar e que cada fase difícil é apenas preparativo para a próxima, entendemos que é preciso viver para a criança e para nós mesmas ao mesmo tempo — ou nunca chegará a nossa vez. Mas e se demorar para perceber isso e não houver mais ninguém lá?

Um dia, alguém disse: “Mãe sabe de tudo!” E depois disso, ficou ainda mais difícil admitir que a gente não sabe, não. Que a mãe tem é muitas dúvidas, somadas à culpa por não ter a resposta certa. E mesmo para as mais preparadas e sabichonas, não há conhecimento que salve das angústias da maternidade. São muitas as nossas dores, e é terrível não dividi-las com ninguém. Quero te lembrar que “Mãe e filho são dois”! Seu filho não é sua outra metade.

Você pode (e precisa) ter sua própria vida, falar de outros assuntos, estar com adultos. É normal sentir falta de silêncio, de sono ininterrupto, de café quente, de sexo lento, de respirar e de ter para quem pedir ajuda. Eu também tenho dias de profundo desespero. Quem nunca? Dias em que me afogo em minhas próprias lágrimas e em que, somente porque tenho filhos, digo para mim mesma: continue a nadar, continue a nadar! Em momentos como esses, é comum pensar que a melhor alternativa é ficar sozinha e ouvir os próprios pensamentos. Com o tempo, a gente aprende a remoer nossos desgostos em silêncio, guardar para si, resolver sozinha… mas essa escolha dói.

Solidão é uma queixa comum na maternidade: “Não há rede de apoio, já não tenho amigas, não conto com a família, não tenho assunto com as outras pessoas.” Quero te dizer que mães podem ser amorosas, dedicadas aos seus filhos, e mesmo assim clamar pelo seu próprio tempo, pelo direito a seu próprio corpo, pela chance de sonhar seus próprios sonhos. Você pode ser a melhor mãe do mundo e mesmo assim cansar e querer fugir com as amigas.

Há muitos caminhos para uma maternidade mais leve: cursos, palestras, livros e o que mais conseguirem te oferecer. E tudo isso pode ser muito útil. A terapia é aliada essencial para evitar o adoecimento e promover saúde emocional. Mas a verdade é que quase nada será tão potente quanto estarmos juntas. O coletivo materno é forte e empodera. Não se trata apenas de companhia, mas de parceria!

O Seminário Internacional de Mães é uma oportunidade especial de compartilhar isso que te faz ÚNICA com centenas de outras mulheres em um ambiente emocionalmente seguro. A experiência de ser vista como sujeito de sua própria maternidade e perceber-se parte de algo muito maior do que suas escolhas individuais e rotineiras com as crianças é igualmente libertadora e estruturante. Uma mulher alcança muito mais quando outra a acolhe, a ensina, a ouve, a apoia e a impulsiona a fazer e querer o que sequer imaginou que poderia. Há muito poder no afeto que uma mãe é capaz de compartilhar com outra mãe. Para que lutar contra, se podemos fortalecer umas às outras e nunca mais estar sozinhas?

Leticia Junqueiro
Psicóloga e Orientadora Parental.
Entusiasta da Saúde Mental Materna.
Mãe de quatro filhos.
Quatro livros publicados para o público materno.
Colunista nas revistas D’Elas e Embaixadora do Seminário de Mães.
Adaptado do texto escrito por Leticia Junqueiro para a 9ª edição da revista digital Mães que Produzem.

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