O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno de neurodesenvolvimento – ou seja, está presente desde o início da vida do paciente, com grandes repercussões no comportamento e no funcionamento dos indivíduos. Além da falta de atenção e da hiperatividade descritos no próprio nome do transtorno, ele também traz prejuízos no que chamamos de Funcionamento Executivo, como organização e planejamento de tarefas, além de dificuldade no controle das emoções e ações geradas por elas. Todas essas dificuldades somadas impactam e muito no dia a dia da família com um membro TDAH, seja esse membro um dos filhos ou um dos cuidadores.
Os comportamentos desafiadores causados pelo TDAH – como esquecimentos frequentes de tarefas, agitação além do normal, explosões emocionais e problemas escolares – podem gerar um ambiente tenso dentro de casa, e costumam adicionar uma carga mental ainda maior a que todas nós mães já enfrentamos no dia a dia da maternidade.
Mães de crianças com TDAH podem sentir uma tensão frequente e sentirem que o cuidado com seus filhos demanda mais tempo e atenção do que com crianças sem o transtorno, e essa tensão constante pode influenciar no modo como reagem aos comportamentos dos filhos, muitas vezes ocasionando explosões de raiva mais frequentes ou intensas e punições mais duras, além de um cansaço que parece não ter fim. Muitas mães relatam até mesmo depressão, sensação de fracasso no papel materno e falta de vontade em se envolver em atividades com os filhos (até mesmo atividades de lazer).
O estresse do ambiente e as críticas constantes por sua vez, podem influenciar negativamente o comportamento dos filhos, o que leva a um ciclo vicioso caso a família não encontre suporte e orientação profissional sobre como lidar com os desafios de forma equilibrada. Nos meus atendimentos a famílias com filhos TDAH, combino a Disciplina Positiva com técnicas de Treino Comportamental para lidar com os comportamentos desafiadores, juntamente com a organização de uma rotina estruturada para trazer mais segurança e leveza para esses lares.
Mas e quando é a mãe que tem TDAH (ou também tem TDAH, além de ser mãe atípica)?
Sim, muitas famílias de crianças com TDAH são compostas também por pais atípicos, já que esse é um transtorno com uma forte base genética, sendo responsável por cerca de 76% das causas de diagnósticos. Com certa frequência, as características são percebidas inclusive durante o processo de diagnóstico dos filhos, gerando identificação com os comportamentos observados na criança/adolescente (o clássico “Mas eu também fazia isso/também era assim nessa idade”) e gerando uma busca por parte do adulto.
Como um transtorno que gera dificuldades executivas e fraco controle emocional, já dá para imaginar que traz grande impacto no exercício da maternidade, não é? A dificuldade em controlar os impulsos pode resultar em mães com comportamentos mais reativos e explosivos, com baixa tolerância à frustração pelos comportamentos infantis como birras e demora para realizar atividades cotidianas. De acordo com o Dr. Russel Barkley, autoridade mundial no estudo sobre TDAH, adultos com TDAH relataram um nível muito mais elevado de estresse ao exercer a parentalidade do que outros pais e mães sem o transtorno.
A desatenção e dificuldade de organização e planejamento também trazem grandes impactos no dia a dia, já que ter um mini ser humano totalmente dependente de si demanda ainda mais tarefas, obrigações com horários, planejamento de alimentação e cuidados, o que já é desafiador para todas nós, mas tem uma carga ainda maior em um cérebro com baixo funcionamento executivo. Manter as regras e a consistência no modo como lida com os comportamentos desafiadores também pode ser difícil para mães TDAH, já que a instabilidade emocional e comportamental causada pelo transtorno podem fazer com que você seja muito “boazinha” (e às vezes até permissiva) em alguns momentos e em outros exploda com facilidade (e intensidade) com algum comportamento infantil, ou que abra mão das regras quando for conveniente (já que pode ser que você mesma seja meio avessa a elas!).
Mas calma, nada disso é uma tragédia (por mais que seja sim mais desafiador do que para a maioria)!
Se você é uma mãe com TDAH ou uma mulher com TDAH que planeja ser mãe, o primeiro passo é manter o tratamento do transtorno em dia. Não descuide do acompanhamento profissional com médicos e terapeutas, e cuide da sua saúde física e mental. Lance mão de artifícios físicos (digitais e analógicos) para facilitar a sua rotina e manter a organização e a rotina: quadros de tarefas e aviso e lista de regras da casa em lugar visível para todos seguirem, agenda física e digital, lembretes no celular, Alexa/Google Assistente e tantos outros aplicativos de organização que temos disponíveis hoje em dia.
Se sentir que está ficando sobrecarregada mentalmente e prestes a explodir, dê uma pausa curta – lave o rosto, acenda uma vela ou incenso, ouça uma música que te acalme ou energize.
A maternidade que envolve o TDAH pode ser mais desafiadora do que parece ser para outras mães que não lidam com a neurodivergência, mas tenha certeza que, independente dos desafios, você ainda será sempre o porto seguro para os seus filhos, e a melhor mãe que eles poderiam ter.
Carolina Figueira
Psicopedagoga Clínica e Institucional,
Educadora Parental certificada em Disciplina Positiva e Mãe do Santiago.
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